sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Uma Teoria Sobre a Formação de Doença Psicossomática (A Asma) - Dr. José Rubens Naime - Médico Psiquiatra

Levando em consideração a neurologia, a fisiologia, o funcionamento glandular e hormonal , a psiquiatria e a psicanálise, podemos criar uma hipótese sobre a formação das doenças psicossomáticas. Entre elas a asma.
Temos que primeiramente pensar que a asma se caracteriza por ser uma patologia do pulmão e no pulmão. Caracteriza-se por causar uma falta de ar muito intensa, advinda de uma constrição muito intensa dos brônquios e bronquíolos, cuja dificuldade de passagem do ar, provoca aumento de secreção alveolar o que dificulta as trocas gasosas entre os pulmões e o sangue circulante. Com isso, a sensação de angústia aumenta, há um prejuízo na oxigenação sanguínea o que, a longo prazo, provoca diferentes alterações fisiológicas com consequente prejuízo nos diversos órgãos irrigados e um maior esforço cardíaco e renal. A respiração fica difícil, a sensação de desconforto é muito grande, aumentando a ansiedade e num círculo vicioso, com o aumento da ansiedade diminui o aporte de oxigênio, a respiração fica superficial ainda que se queira aprofundá-la, perde-se líquido, ressecando-se os brônquios. Com isso aparecem sibilos, e sons característicos de uma crise asmática.
De um ponto de vista psicossomático o que ocorre é que, a partir de um sentimento de abandono (que pode ser por rejeição explícita, ou por um abandono no cuidado, ou por um cuidado excessivo do somático com prejuízo do psíquico) a criança tende a "ler" esse abandono como solidão. Chora, mas não é ouvida em suas necessidades psíquicas. Chora e é ouvida em suas necessidades físicas, ou seja, é superalimentada,, por exemplo. Ao sentir-se abandonada (nem sempre é real do ponto de vista físico. O real aqui é do ponto de vista psíquico), a criança (ou a criança no adulto) ativa um mecanismo de defesa por estar em risco de morte psíquica. Fica ansiosa, aumenta sua respiração e como seus pulmões ainda são imaturos, provocam um ressecamento dos mesmos (para alguns estudiosos de psicossomática, esse ressecamento corresponde a um choro sem lagrimas).
Ao entrar em risco de morte, os cuidadores (no caso, da criança) são obrigados a perceberem o sofrimento da criança e a levam ao medico. Inconscientemente, a criança percebe que esse mecanismo de defesa tornou-se a sua salvação psíquica. Não podendo fugir nem lutar, uma solução intermediária pode ser exercida (surge a asma).
Se os cuidadores dessa criança ou um bom medico pediatra, souberem atentar para o que ocorre, além dos medicamentos que se usam (broncodilatadores e antiinflamatórios, adrenalina subcutânea e corticóides) orientará os cuidadores sobre a solidão dessas crianças e para a abertura dessas crianças ao relacionamento social (grupos de outras crianças, natação etc.) ainda orientações no plano do psíquico, pode-se reverter esses quadros antes que se tornem crônicos e passem a fazer parte da vida dessas pessoas. Do ponto de vista neuropsiquiátrico, podemos pensar que quando a criança fica ansiosa e angustiada, e ativa a defesa a vida, a criança ativa no cérebro um mecanismo primitivo de defesa que é o lutar ou fugir, não podendo fazer nem uma coisa nem outra, tenta a terceira via que é compreender e daí arranjar uma solução racional. Mas a criança não consegue ainda ativar o raciocínio a ponto de conseguir uma solução tão madura pois seu cérebro ainda trabalha basicamente só com o sistema límbico (o local da percepção dos sentimentos) e as reações geralmente tendem a ser imediatas pois tem a ver com o cérebro responsável pelo controle motor. Daí, não se conseguindo uma resposta racional ou intelectual, a resposta tende a ser primitiva ou corporal. Com isso, o sistema límbico será ativado, ativa a hipófise, que desencadeia uma reação hormonal generalizada, cuja maior repercussão vai ser ao nível da supra-renal de imediato e posteriormente ao nível de todos os outros órgãos com ligação a função da hipófise.
A supra-renal "entende" que deva preservar a vida, produzindo mais adrenalina do que o necessário para uma vida normal e glicocorticóides. A adrenalina, acelerando a circulação sanguínea, provoca maior funcionamento de todos os órgãos, principalmente do coração e rins, estimula a respiração para uma maior oxigenação dos órgãos e quando chega ao limite do funcionamento, superficializa a respiração produzindo o que chamamos ASMA.
Do ponto de vista psicanalítico, podemos inferir que, sendo os pulmões os primeiros órgãos mais exigidos logo apos o nascimento da criança, podemos dizer que estamos lidando com o que Freud denominou como fase Oral do desenvolvimento, ou seja uma fase bastante primitiva no desenvolvimento e que exige não só satisfação oral através do alimento, mas também aconchego, carinho, atendimento as necessidades básicas de alimentos , cuidados e amor, compreensão dos sentimentos da criança.
Resumindo: A ASMA, do ponto de vista psicossomático (uma hipótese), é uma patologia gerada a partir da fase oral, por um sentimento de abandono, que ativa as defesas primitivas, que não podendo ser compreendidas racionalmente para uma resposta independente, ativa o mecanismo de defesa luta ou fuga, que não podendo ser ativado de maneira adequada, provoca uma resposta orgânica, na tentativa de, por meio do instinto de vida e sobrevivência, sair da morte psíquica. Não tendo uma resposta adequada, outras lesões poderão advir disso, tendo uma resposta adequada, repete-se esse mecanismo de defesa toda vez que a criança se vê novamente abandonada ou agora para obter carinho e aceitação. A aceleração da respiração, causa um desconforto cujos sintomas são ansiedade, angustia, falta de ar, respiração ofegante, problemas pulmonares, advindos da quase falência dos órgãos responsáveis por defender a pessoa de tal estado. Para reverter tal quadro, administram-se substancias broncodilatadoras e antiinflamatórios poderosos (os mesmos que por um tempo defenderam a pessoa da moléstia, mas que por exaustão mergulharam a pessoa na patologia). O que se faz é apenas dar a mais algo que o organismo não consegue produzir alem do normal. Com isso geralmente as pessoas engordam, pois os glicocorticóides aumentam o apetite. Sem uma psicoterapia profunda para se compreender esse mecanismo não ha solução. Ao aumentar o apetite, aplaca-se a angustia da solidão com alimento, que justamente e o que cuidadores fizeram com a criança na fase oral e justamente o que não deu certo por muito tempo. Daí o círculo vicioso (sentimento de abandono, o cuidador vê como fome. Dá-lhe alimento, a criança engorda. Como falta afeto, a criança fica ansiosa. A criança ansiosa, chora e não e atendida no seu choro solitário e o alimento não basta. Fica ansiosa, acelera a circulação, resseca os pulmões e daí a asma).

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