sábado, 16 de outubro de 2010

Uma teoria em psicossomática na formação da úlcera gastroduodenal - Dr. José Rubens Naime

Sem levar em consideração os fatores mecânicos ou bacteriológicos na formação da úlcera gastroduodenal, mas apenas os fatores neuropsicológicos e psicanalíticos envolvidos, parte-se do princípio que a úlcera gastroduodenal é formada a partir de uma fixação do adulto na fase oral, que além da U.G.D, poderia, em movimento contrário, ter levado também a obesidade e até mesmo a obesidade mórbida, quando se faz muito intensa a pressão afetiva, nas componentes: rejeição, carência afetiva ou ao contrário, agressão por excesso de alimentação (como compensatório ao medo de falta de afeto, substituição de afeto por comida). Há um autor em psicanálise que trouxe uma definição muito boa para a maternagem dos primeiros dias e meses, que diz: O cuidado maternal deve ser feito por pessoas que sejam "mães suficientemente boas", mãe compreendido aqui quem fará esse cuidado maternal e não só a mãe em si. Pois, podemos ter mães rejeitadoras, mães que não conseguem ser mães, mães que morrem e têm que ser substituídas, mães que trabalham, etc. E, esse papel terá que ser feito por uma mãe suficientemente boa, que é a que não deu à luz, mas, a que consegue ser esse tipo de mãe.
Mãe suficientemente boa é aquela pessoa que consegue entender e suprir de maneira adequada as necessidades da criança, sem exagero, nem por ansiedade e controle total dos desejos da criança, nem por ausência, ou seja, nem mimando exageradamente que a criança não tenha chance de expressar suas necessidades, nem deixando que a criança passe por necessidades que não deveria passar (mães narcísicas, que só realizam o próprio desejo, ou seja, só cuidam da criança quando ACHAM que a criança precisa e não quando a mesma precisa realmente).
Na fase oral do desenvolvimento (segundo a psicanálise) a criança adquire o mundo não só através do alimento, mas do que ou da forma como o alimento é administrado, ou seja, a forma como a criança é acalentada, acolhida no colo, amamentada. Nos seres humanos há uma diferença fundamental em relação aos outros animais. Os animais em geral se contentam com o mamar para saciar a fome (ou seja vivem, conforme as necessidades), já os seres humanos ao lado do alimento, necessitam viver e sentir o prazer do alimento e de ser alimentados, pois é desta relação que nasce a necessidade de comunicação e da necessidade de comunicação que nasce a linguagem e da linguagem a criação da cultura. A criança que é super alimentada (função materna controladora ou fóbica) vai desenvolver uma obesidade, pois a criança capta que para ser nutrida também afetivamente, ela necessita de alguma forma se alimentar de alimentos (para receber atenção e afeto)
Teremos então que, de outro lado, se uma criança é frustrada tanto no sentido da carência de afeto como nos cuidados mais elementares, ela passa a ativar ao lado de uma fome verdadeira de alimentos uma "fome" de afeto que passa a ativar o sistema de defesa à vida. Não há possibilidade de fugir nem de lutar pela própria impotência da criança em se prover e ser dependente totalmente. A criança passa então a ativar seus sistemas de defesa primitivos já que não tem capacidade de ativar respostas corticais por meio do pensamento e consequentemente da estratégia racional para resolver a carência. Esses sistemas de defesa ativam primeiro os órgãos dos sentidos (principalmente o olhar, o tato, o olfato; depois com a dor da fome física e psíquica, o choro e o desespero e por fim o desânimo) Se a criança é satisfeita em algum momento mas nem sempre é satisfeita, não tendo segurança e controle de que possa sê-lo, ela pode começar a ter quedas de defesa e consequentemente doenças várias decorrentes da queda de resistência geral. Caso a criança precise chegar ao ponto de exaustão para ser satisfeita, ela pode desistir e morrer ou ter graves problemas físicos e psiquiátricos. Caso a criança tenha chance de uma satisfação deficitária, mas que "sabe" que com o sofrimento e o choro a satisfação tarda mas sempre vem, pode desenvolver problemas gástricos. Por quê? Porque ao ativar o sistema de defesa primitivo, a criança ativa o cérebro primitivo, responsável pelas respostas afetivas, ou seja o sistema Límbico (giro do cíngulo, amígdala, corpos mamilares) além do tálamo e hipotálamo, que por decorrência ativam a hipófise (sede da estimulação de todo funcionamento hormonal). A hipófise num de seus inúmeros componentes, ativa a supra-renal a produzir adrenalina para manter as funções vitais funcionantes (coração, pulmão, cérebro, rins). Só que ao demorar a satisfação dos desejos afetivos, a adrenalina provoca a saída de glicose para o sangue para suprir o gasto energético. Aumenta então, o apetite corporal-físico. O estomago produz mais ácido clorídrico do que o necessário. O acido clorídrico em excesso prejudica o muco estomacal e surgem então as gastrites e úlceras. Esse mecanismo se torna então crônico e num circulo vicioso a pessoa cresce sempre com problemas gástricos. Na infância e adolescência e começo da idade adulta os sintomas são mascarados e tratados com sintomáticos e as tarefas da vida ainda não são suficientes para causar grandes desgastes. Quando adulto , que as tarefas são imensas, os desgastes enormes, o individuo tem que cuidar de sua própria sobrevivência, ou seja ser autônomo, volta-lhe então aquele vazio afetivo que ficou da infância. É aí que o adulto , buscando defender-se afetivamente, volta para o período da infância em que deveria ter sido satisfeito. E não encontra resposta.
A criança internalizada não tem como responder a essa situação de uma maneira positiva. Não há reencontro de uma maternagem satisfatória. A essa busca no passado damos o nome de ponto de fixação. O adulto , através de sua criança fixada, não sabe se sente fome ou carência. Passa então ou a beber bebidas alcoólicas, perde o apetite, emagrece, ativa novamente seu sistema primitivo de defesa, ativa seu sistema nervoso primitivo em busca de afeto, estimula todas suas glândulas , produz adrenalina em excesso, ativa o produção de suco gástrico em excesso e acaba com um ulcera gastroduodenal. A ulcera pode se estabilizar, pode sarar se tiver um tratamento adequado (medicações clinicas, psiquiátricas e psicoterapia) ou pode perfurar, terminando em cirurgia. Assim, termina algo que se iniciou às vezes, 20, 30 , 40 anos, depois do início desde o nascimento. JRNAime

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