segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Contos de Fadas - Análise Junguiana - Dr. José Rubens Naime - médico psiquiatra

Os estudos em contos de fadas, do ponto de vista da psicanálise Junguiana, abordam os aspectos morais, portanto de criação de um superego (termo criado pela psicanalise Freudiana). Além disso, aborda um tipo de espiritualidade primitiva, pagã. Também estuda a relação do ser humano com a natureza (plantas e animais), levando em consideração que todos os seres humanos são provenientes de uma mesma matriz energética, portanto, irmãos na gênese da criação, diferenciados apenas pelas condições evolutivas, mas sem um critério de prioridade nem de importância, na existência. Trabalha também o princípio inerente da divisão que a matéria sofre para se polarizar e existir e a união da mesma, em torno da idéia de casamento como unificador destes mesmos princípios e a formação de um terceiro elemento de igual gênese para se juntar a um quarto elemento e estabelecer o mundo visível.

A compreensão começa, tendo em vista que sempre as historias ou os contos de fadas começam com: “Era uma vez...”, ou seja, num tempo atemporal. Isso mostra que de um ponto energético começa a criação de um mundo mágico que encontra paralelo na realidade. O cenário que se desvenda então é de uma coletividade em que seres humanos, natureza vegetal, animal e geológica, se congraçam. No início tudo está em paz (Era uma vez um reino em que Rei e Rainha viviam em paz. De repente...., ou,... mas faltava um filho, e por aí vai. Assemelha-se muito a idéia da saída do Paraíso no mito judaico-cristão da criação do mundo). Para que esse mundo coletivo, que Jung denominou inconsciente coletivo- inconsciente porque carregamos de maneira inconsciente e coletivo porque todos os seres humanos somo feitos da mesma matriz, pois em algum momento da evolução fomos, como espécie, apenas um óvulo e um espermatozóide, patrimônio genético idêntico que se diferenciou ao longo dos séculos. Portanto, se temos o mesmo patrimônio genético ha milênios, somos coletivamente iguais e consequentemente temos gravados em nosso patrimônio inconsciente as mesmas imagens ancestrais. Talvez por isso que os contos de fadas são semelhantes em todos os países, em todas as culturas, em todos os povos. Talvez por isso que as crianças do mundo todo, entendem de imediato as imagens que eles trazem e se maravilham com os relatos, e tornam a sonhar com as figuras boas e más que povoam tais histórias.

Como este inconsciente coletivo necessita de uma organização, as histórias (ancestrais) utilizam as primeiras organizações que os seres humanos inventaram (as tribos) daí para as pequenas comunidades, depois para as organizações tribais (as doze tribos de Israel por exemplo), depois os feudos e depois as cidades. Tais organizações se confundiam com organizações religiosas e daí o chefe ser uma extensão do principio religioso era um passo apenas. Tal princípio religioso, admitia que um casal fosse o comandante e proprietário dos bens e das pessoas, e dos animais e dos bosques. Tal casal era o Rei e a Rainha.

Portanto ser rei e rainha de um povo, equivalia a dar o exemplo, por exemplo terem filhos, numa época que se necessitava aumentar a população. Ter filhos mostrava o quanto o rei e a rainha eram potentes e podiam fecundar a terra com a potência deles. Mas também eram humanos. E os contos de fadas vinham mostrar que ao lado divino dos reis e rainhas havia também o lado humano, ou seja, grandes virtudes, mas grandes problemas também. E que não era fácil preparar um príncipe ou uma princesa para assumir um trono. Para isso era necessário passar por provas, às vezes muito duras, mas que preparavam os futuros príncipes para a tarefa a assumir e daí a formação do caráter e dos valores morais necessários. Os contos de fadas falam de animais que se sacrificam para redimirem alguns, falam da forma que as pessoas usam os dons que lhes foram dados (Os três porquinhos, por exemplo) falam de abóboras que se transformam em carruagens, ratos que se transformam em cavalos e uma infinidade de magias que protegem os personagens injustiçados. A criança, então maravilhada com estas histórias pode almejar reparações quando sofre injustiça, pode se vir vingada quando um personagem mal sofre algum tipo de castigo. A ideia de que uma punição foi aplicada a uma ação má traz a idéia de que o castigo é merecido quando se ultrapassa uma ação tida como injustiçada ou imerecida. O fato de que as histórias sempre terminam com “E foram felizes para sempre” é redentora e dá esperança para os sofrimentos da vida, ou seja, por mais que se sofra há uma saída positiva para os conflitos da vida.

Enfim, é extremamente necessário que as crianças ouçam, leiam, vejam, assistam, discutam, riem, chorem, com os contos de fadas, pois é desse material que é feito o inconsciente da criança.

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